Parte 02

A JUSTIÇA NAS SAGRADAS ESCRITURAS

 

A Justiça nas Sagradas Escrituras será compreendida pelo ser humano agraciado com os ensinamentos advindos do Espírito Santo.

Um dos que recebeu o Espírito Santo foi Paulo, que rompeu imediatamente com o Senhor do Antigo Testamento.[1] E se sabe que foi vencedor, porque seus frutos o qualificaram como verdadeiro seguidor de Jesus Cristo até a morte.[2]

Paulo afirma que não é contra os seres humanos que se deve lutar, mas sim contra as Autoridades dos ares, os Dominadores deste mundo de trevas, contra o Espírito do Maligno, que povoa as regiões celestiais.[3] Segundo Paulo foram estas Autoridades que legaram à humanidade, o Antigo Testamento, não para salvar, mas para condenar, para conduzir a humanidade ao fratricídio, a guerra e a morte. Divindade cruel que instruiu a humanidade, através do Antigo Testamento na política do anátema, representado pela morte dos povos vencidos, fossem crianças, adolescentes, jovens, adultos e velhos. [4]

Diz Paulo:

 

Importa que observemos tanto mais cuidadosamente, os ensinamentos que ouvimos para que não nos transviemos. Pois, se a palavra promulgada por anjos entrou em vigor, e qualquer transgressão ou desobediência recebeu justa retribuição, como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?[5]

 

 

Paulo se refere ao sacrifício de Jesus Cristo que veio a este mundo para salvar a humanidade do poder do Maligno. Daí porque não se pode negligenciar tal salvação.           

Cristo remiu-nos da maldição da Lei, fazendo-se por nós Maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (Deut. 21, 23) [...] Se fosse dado uma Lei que pudesse vivificar, em verdade a justiça viria pela Lei; mas a Escritura encerrou tudo sob o império do pecado, para que a promessa mediante a Fé em Jesus Cristo fosse dada aos que crêem[6].

Jesus vem a este mundo nos mostrar o caminho para que se possa sair do domínio da Autoridade do mundo, que vive nos ares.

Explica Paulo:

 

Uma vez que os filhos têm em comum carne e sangue, por isso também Ele participou da mesma condição, a fim de destruir pela morte o dominador da morte, isto é, o diabo;  e libertar os que passaram toda a vida  em estado  de servidão, pelo temor da morte. [...] Convinha, por isso, que em tudo se tornasse semelhante aos irmãos, para ser, em relação a Deus, um sumo sacerdote misericordioso e fiel, para expiar assim os pecados do povo. Pois, tendo ele mesmo sofrido pela tentação, é capaz de socorrer os que são tentados.[7]

 

 

Humberto Rohden, em sua obra O Sermão da Montanha, citou a seguinte frase de Mahatma Gandhi, “Se se perdessem todos os livros sacros da humanidade, e só se salvasse o Sermão da Montanha, nada estaria perdido”.

O mesmo que nos legou o Sermão da Montanha, também nos legou o conhecimento do Maligno, uma palavra não se realiza sem a outra.[8]

É no Sermão da montanha que se lê: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados” e ainda confirma: “Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”.[9]

A que Justiça Jesus está se referindo? 

Àquela justiça injusta proveniente daqueles que neste mundo a serviço do seu criador, atam peso uns sobre os outros, tornando a vida ainda mais dura do que ela já é, por sua própria natureza, como visto das declarações do professor Aguiar, no capítulo anterior. Mais fundamentalmente da justiça da divindade que impôs a morte, a quem nem se quer tinha vida, como foi o caso do Adão, que teria sido o primeiro homem.[10]

Jesus é contra as Autoridades dos Ares, aquelas que se pronunciaram através da lei judaica visando infligir maior penúria à vida humana e a todos que se hierarquizam, visando serem servidos e não servirem.[11]

Jesus se coloca contra as afirmações do Êxodo capítulo 4 versículo 11 em diante, onde Javé revela: “Moisés! Quem dotou o homem de uma boca? Ou quem faz o mudo ou o surdo, o que vê ou o cego? Não sou eu, Iahweh?[12] Com estas afirmações a divindade assumia perante a humanidade, que era a razão de toda a enfermidade e a possibilidade de cura. E ainda, no livro do Deuteronômio no capítulo 32, versículo 39, quando afirma: “E Agora vede bem; Eu, sou eu,  e fora de mim não há outro Deus! Sou Eu que mato e faço viver, sou eu que firo e torno a curar e de minha mão ninguém se livra”[13] Estas declarações de Javé contrariavam completamente a Doutrina  de Jesus Cristo  e o amor de Deus nele manifestado.

Contra a justiça dessa divindade homicida desde o inicio, Jesus, segundo os princípios nesta seção estudada, se opôs.[14]

E se opôs de forma prática. Como se vê da resposta que deu a João Batista, o profeta precursor quando perguntou: “És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar um outro?” Jesus respondeu: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: ”os cegos recuperam a vista, os coxos andam, os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobres são evangelizados. E disse mais: “E bem aventurado aquele que não ficar escandalizado por causa de mim!”.[15]

Peter Calvocoressi, em sua obra Quem é Quem na Bíblia, assim comenta os milagres de Jesus Cristo.

 

Todos os quatros evangelistas fornecem detalhes de diversos milagres e se referem, em linhas gerais, a muitos outros. Seu objetivo era deixar claro que Jesus não apenas não era um homem comum, como tampouco um profeta comum, mas o Messias. Todos os Evangelhos culminam no julgamento e na morte de Cristo, e seus autores anunciam esses eventos aterradores reiterando a descrição de milagres que, além de atrair as multidões, demonstravam a singularidade da carreira – e, portanto, da morte – de Jesus. Os milagres não eram simples histórias bizarras, mas uma parte essencial da afirmação messiânica e, após a Ressurreição, da afirmação cristã – pretensões estas que tornavam difícil aos judeus cristãos se entenderem com o restante da comunidade judaica, cujos líderes os cristãos acusaram de deicídio. (Essa acusação, originalmente dirigida contra os sacerdotes de Jerusalém na época da Crucificação, foi posteriormente estendida pela Igreja cristã aos judeus em geral, e se tornou um ingrediente primordial do anti-semitismo cristão).[16]

 

 

O Maior erro do cristianismo foi esquecer os princípios comprovados por Jesus Cristo na cruz.[17] Sua luta era contra a divindade do Antigo Testamento, não contra os seres humanos, os quais inocentou na cruz.[18] Os cristãos sobreviventes se juntaram ao Senhor da morte e contrariando as palavras de Jesus e de Paulo através do Espírito Santo, foram contra ou a favor dos judeus, ao invés de lutarem contra a divindade homicida do Antigo Testamento. Mataram as operárias e inocentaram a rainha, quando Jesus lhes tinha provado com sacrifício da cruz, o sentido contrário.

Disseram que Jesus havia chamado Javé de Pai.[19] Quando na verdade Jesus o chamou de Pai da mentira.[20]  Enganos que levaram os cristãos às velhas práticas do anátema do Antigo Testamento e que ainda persiste.[21]

J. Herculano Pires em sua obra, Concepção existencial de Deus, assim define essa angústia humana perante seu criador:

 

[...] A idéia de um Pai todo poderoso, e, no entanto insensível à miséria e ao sofrimento da maioria dos filhos sempre perturbou os que pensam e levou muitas criaturas à revolta e à descrença. De duas, uma: ou aceitavam a injustiça ou não admitiriam a existência de Deus. Bastaria isso para nos mostrar que o conceito de Deus, formulado pelas religiões e sustentado a ferro e fogo através dos milênios, não pode estar certo. Precisamos examinar esse grave problema enquanto não apertam os botões do Juízo Final.[22]

 

 

Tomam-se as palavras do professor Herculano, para garantir que este é  o propósito deste trabalho, trazer um conhecimento fundamentado nos princípios de Jesus Cristo capacitado a revelar o verdadeiro Deus.

Agora que se conhece o Espírito Santo, ou melhor, se é conhecido por Ele, veja-se o que diz o professor Leonardo Boff, em sua obra, A Trindade e a Sociedade:

 

Que seria do ser humano sem o Espírito Santo, sem um mergulho em seu próprio coração, sem a força de ser e de transformar a criação? Seria um peregrino sem entusiasmo e privado da coragem necessária para a caminhada. Sem o Espírito não poderíamos crer em Jesus nem entregar-nos confiadamente ao regaço do Pai.[23]

 

 

Passar-se-á através da Instrução do Espírito Santo às revelações sobre a justiça de Deus nas Sagradas Escrituras, considerando para esse fim a visão kelseniana e de Bittar.

Reitere-se, por oportuno a afirmação de Jesus, no quinto princípio desta seção: “Sim se é sim, não se é não. O que passa disso vem do Maligno”.

 


[1] GÁLATAS.  Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 2, 17 ss. p. 2190.

[2] TIMÓTEO. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 4, 6 ss., p. 2235.

[3] EFÉSIOS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 6. 10 ss., p. 2204.

[4] JOSUÉ. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 6, 17 ss, p. 344.

[5] HEBREUS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 2., 1. p. 2243.

[6] GÁLATAS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 3, 13 e 21 ss. p. 2191.

[7] HEBREUS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém,  1985, cap. 2. 14 p, 2243.

[8] HOHDEN, 1976.

[9] MATEUS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap.5, 1 ss.  p. 1845.

[10] CALVOCORESSI, 1998, p. 13.

[11] MATEUS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 20, 28. p. 1877.

[12] ÊXODO. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 4, 11 ss. Conversa de Moisés com Javé. p. 110.

[13] DEUTERONÔMIO. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, SP, 1985, 32,39. p. 323

[14] JOÃO. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, p. 2009. Falando ao judeus Jesus declara: Vosso pai é o Diabo e quereis fazer o desejo de vosso pai. Jesus disse isso, porque os Judeus iriam matá-lo em obediência a determinação de Javé em Deuteronômio cap. 18, 20 ss., p. 301.

[15] MATEUS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap.  11, 1 ss. 1858.

[16] CALVOCORESSI, 1998, p. 104.

[17] MATEUS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, p. 5. 43 ss. p. 1847.

[18] LUCAS. Português. In: A Bíblia de Jerusalém, 1985, cap. 23, 33. p. 1975.

[19] PIRES, J. Herculano. Concepção existencial de Deus. São Paulo: Ed. Paidéia, 1979. p. 49.

[20] JOÃO. Português. In: A Bíblia de Jerusalém. Tradução do texto em língua portuguesa diretamente dos originais. Nova Edição Revisada, Editora Paulus, SP, 1985, cap. 8.44 ss. p. 2009.

[21] PIRES, op. cit., p. 89.

[22] Ibid., p. 13.

[23] BOFF, Leonardo. A trindade e a sociedade. 3. ed. São Paulo: Editora Vozes, 1987. p. 39.

 

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